Jornalista de Jacareí relança livro que aborda racismo na Copa de 1958
O primeiro livro do jornalista e escritor Fábio Mendes, radicado no Vale do Paraíba, ganha uma nova fornada, após esgotamento da primeira tiragem. “Campeões da Raça – Os Heróis Negros da Copa de 1958” traz os bastidores do episódio de racismo que quase tirou Pelé e Garrincha da Copa do Mundo na Suécia, a primeira vencida pelo Brasil.
“Campeões da Raça” foi lançado oficialmente em junho de 2018, como forma de celebrar os 60 anos da conquista. O prefácio foi escrito por Mauro Beting, um dos mais respeitados jornalistas esportivos do país. Em 2019, a obra foi finalista do Prêmio Livro-Reportagem Amazon, após superar uma seleção com 160 livros.
Produzido de forma independente, o livro pode ser adquirido no site do autor (www.fabiomendesjor.com.br). Estão disponíveis as versões impressas e digital (Kindle).
A história
O livro tem como tema principal a preparação da seleção brasileira para disputar a Copa de 1958, na Suécia. Na ocasião, a equipe contava com vários jogadores negros no time titular, como Pelé, Garrinha e Djalma Santos. Com o passar do tempo, entretanto, esses jogadores perderam a posição, mesmo sendo superiores aos seus concorrentes diretos. Motivo: o racismo.
“Em 1958 surgiu a tese de que os jogadores negros eram mentalmente instáveis, que fraquejavam nos momentos decisivos. Ou seja, eles ‘amarelavam’ em jogos importantes. Essa teoria racista ganhou tanta força que interferiu na escalação do time”, revela Mendes.
A mentalidade racista não surgiu de uma hora para outra: ela foi sendo construída lentamente, a partir dos insucessos brasileiros na década. No livro, o jornalista disseca os fatos ocorridos nas Copas de 1950 e 1954 e na excursão da Seleção Brasileira à Europa em 1956. “Esses três eventos foram cruciais para o recrudescimento do racismo visto em 1958”, pontua.
Apesar da opressão racial, a Copa teve um final feliz: quando ficou claro que o Brasil não estava colocando seu melhor time em campo, Pelé e Garrinha recuperaram a posição de titulares. A partir daí, a Seleção Brasileira deslanchou e deu espetáculo até a vitória final, contra a Suécia. “Foi uma vitória brilhante, mas também heroica. Os jogadores negros de 1958 tiveram de superar obstáculos em que muitos sucumbiram”, pondera Mendes.
O livro
Mendes apresenta um estilo que deve agradar não só a quem busca um trabalho de enfoque social mas também aos amantes do futebol. “O livro traz algumas revelações importantes sobre como o racismo funciona no Brasil de uma forma geral e no futebol em particular, com destaque para os acontecimentos da década de 1950. Mas é também um livro sobre futebol, com relatos de partidas, causos e curiosidades e informações que se perderam no tempo, além de derrubar alguns mitos alimentados por décadas”, explica o autor. A obra traz fotos raras e produções de jornais brasileiros e suecos da época.
Para produzir o livro, Mendes entrevistou ex-jogadores, dirigentes e jornalistas que viveram a saga da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958. O trabalho traz relatos exclusivos e também fotos e reportagens do período.
A reimpressão do livro se dá em um momento em o tema do racismo no futebol tem sido cada vez mais discutido no país. “Apesar de focar em casos de racismo de décadas atrás, o livro dialoga com o quadro atual ao mostrar que o racismo nunca deixou de existir no futebol. Ele ganha novas caras, roupagens e se infiltra por novos espaços, mas nunca deixou de envenenar nosso futebol e nossa sociedade como um todo.